domingo, 27 de setembro de 2009

O ilusionista

Choveu no deserto,
As folhas não caíram,
Os frutos das árvores também não,
A primavera chegou novamente,
As crianças todas foram felizes,
Os dias amanheceram sem tempestades,
As noites chegaram e a escuridão não causou mais medo,
Todas as coisas mudaram
Só porque você chegou
E ainda que fosse sonho
Mesmo sendo tudo imaginado
Em tua partida
Os pássaros e as cigarras esquecerão seus cantos,
As árvores terão seus frutos sem sabor,
Os perenifólios carvalhos do campo sentirão a saudade que sinto por ti.
Mas é tempo de sonhar
E neste sonho
Você reencarna segundo minha vontade e não pela vontade de Deus.
Assim os castelos serão fortes,
As mães serão sempre amáveis,
O tempo será sempre paciente com todos,
E eu sempre verei tua sombra que caminha passos a minha espera.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009



"A ilusão é ovo corado de quem tenta pôr em prática sua ousadia."

domingo, 13 de setembro de 2009

Horizonte


"Nem luz, nem escuridãoo

meus olhos sabem o que há no caminho."

Rancor

Àquele que caminha rumo ao grande nada que foi fomentado pela solidão...
A esperança, o perdão
A minúscula paz, o descanço habitual,
Senão coubesse naquele instante de dúvidas a inexatidão da certeza
Ainda permitida pela sua ausência deliberada
Seria, enfim, paz e não tristeza.

Xipófagos

Xipófagos
(indivíduos ligados um ao outro)

Em momento algum na vida você poderá com certeza afirmar que encontrou o seu grande amor. Não seja tola ou feminina demais, claro!
A não ser é claro naquele dia em que você acorda e olha para o lado e repara um lugar vazio que um dia foi ocupado por alguém que você não sabe onde está agora.
Levanta-se e senta-se à uma mesa fria e solitária onde seu ego debruça-se sobre um café da manhã também frio e difícil de engolir...

Ah para que manter nas lembranças os momentos tão bons de uma relação que se foi enquanto outras milhares podem estar por vir?

Mas você sabe esta resposta e é porque vocês são xipófagos e quebram a lei da natureza maior, a não ser é claro para aqueles que de fato nascem assim. Ao viver grudado em alguém você não tem um mundo seu, você tem um mundo compartilhado, uma banheira apertadamente e gostosamente compartilhada, uma escova de cabelo e o cão também.

Quando você começa a notar é no peito do outro que bate o seu coração, é nas mãos do outro que repousam os seus prazeres, é na carne alheia que sua carne se satisfaz.
Mas isso não significa que você possa olhar para dentro de si e afirmar que encontrou o grande amor de sua vida. A não ser naquele dia que você vai tomar banho no sábado à tarde pensando em preparar-se para aquela festa de amigos, então olha para aquele canto do boxe onde o shampoo para cabelos mistos repousava sem você nunca usá-lo porque não era seu. E quando você vai para o quarto usar a roupa fatal que te fará a mulher mais linda da festa e ao escolher a roupa percebe que foi ele quem te deu de surpresa em cima da cama confidente.

Ah você não pode dizer que encontrou o seu grande amor, mas se sentir muito estas coisas pode sim pensar que perdeu um grande amor, mas que não significa que nos seus céus de sonhos não brilharão novas estrelas, não voarão outros belos pássaros, que nos seus ninhos novos amores não serão vividos. Durma então abraçada a idéia de que outros dias atrás você levantava-se para uma vida feliz e agora você levanta-se para a sua vida feliz, agora você toma banho para você se sentir limpa, você usa o melhor vestido para você encantar a si mesma. E o grande amor que você sentiu vai dentro do seu peito, guardado para ser relembrado todas as vezes que você sentir saudade sem doer tanto como antes e um dia não mais.

Amar...

Se você não conhece o amor eu posso apresentar somente o que andou no meu coração.
Amar de verdade é pegar o ônibus errado, pois o certo te levava à casa de alguém que não pensa mais em você ou pensa, mas não faz tanta diferença se isso não é escrito no bilhete preso na geladeira pela manhã.

É andar pela rua errada, pois a certa esta distante demais pra se lembrar do cheiro que as calçadas têm no dia de inverno mais frio do louco amor que antes foi ali vivido.

Amar é trazer preso na lembrança um sorriso frouxo daquela pessoa dado num momento de maior descontração de suas vidas juntas, aquele momento em que não se medem os traços musculares feitos poses em capas de revistas, é aquele sorriso frouxo e exagerado com som circense de uma noite inebriante.

Amar talvez ainda seja pensar na roupa suja que ficou jogada atrás da porta do banheiro após o amor no chuveiro, depois de um dia de trabalho, faculdade, ônibus cheio, trem, metrô...
Talvez seja acordar na cama de solteiro, olhar o espaço vazio na cama, no coração, na vida, na religião que ficou como tema da sua presença iluminada; saber que estes vazios não são remediados pela presença iluminada, encantadora, amável de nenhuma outra pessoa, senão a sua, que serviu de tema ao ódio que o amor preferiu sentir.

Amar é desejar correr pra longe daquilo que se sente na despedida eterna que um dos corações fica sentindo; é fazer de cada reencontro uma nova despedida fracassada porque o amor não deixa em paz aquele coração solitário que fez todos os planos de sua vida com o outro que incrivelmente vive bem sem você.

Amar é sentir que debaixo da cama, dentro do roupeiro, atrás do portão, estará uma nova surpresa que nunca se renova, senão dentro daquele coração esperançoso. É olhar cada dia para estes mesmos lugares achando que ali vive um herói, uma heroína, capaz de ser o clone ainda que superficial do ser deusificado que partiu sem saber o caminho de volta, mas que assombra vez por outra com seu espírito.

Depois de tantas lições não sei saber o amor verdadeiro dentro do peito cansado da luta constante e imediata. Arrepender-se de nunca ter tentado, arrepender-se de tentar mais uma vez. Chegar o dia em que tua presença e o amor que sentia foram só uma lembrança boa ou uma amarga decepção. Este dia glorioso no qual o meu coração não vai mais saber o que é amor, só para amar de novo um novo alguém.